Ana Gomes volta aos temas que lhe são caros e cada vez mais atuais, nesta entrevista DN/TSF. A corrupção, Isabel dos Santos, Rui Pinto… E sobre apostas online.
Nesta semana decorreram buscas em clubes de futebol, casas de dirigentes e até de agentes desportivos, numa operação que dava pelo nome de Fora de Jogo.
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A justiça pode tardar, mas acaba por chegar?
Esperemos que sim, mais vale tarde do que nunca, sem dúvida. Esta operação é induzida pelas autoridades de outros países que fizeram o que havia a fazer quando saíram os Football Leaks. Segundo o comunicado da PGR [Procuradoria-Geral da República] visa os negócios do futebol profissional desde 2015, altura em que saem os Football Leaks. Os outros países fizeram o seu trabalho e o nosso aparentemente não fez, está agora a fazer e por pressão externa. Tanto quanto eu sei, nem sequer foram ainda pedir colaboração ao Rui Pinto, não obstante ele ser a fonte dos Football Leaks, como é do Luanda Leaks, e, não obstante ele ter dito que estava disponível para ajudar as autoridades nessas investigações.
Daquilo que conhece e sabe, isto é só a ponta do icebergue?
Eu não sei em que é que incidem, só sei aquilo que já foi noticiado, e já isso é amplamente preocupante. Mas sim, eu tenho a perceção de que tudo o que tem sido noticiado é apenas a ponta do icebergue porque muita da criminalidade associada aos negócios do futebol não está só nos clubes e nas práticas dos clubes, e dos agentes ligados aos clubes e dos agentes dos treinadores, dos futebolistas, etc. Está também nos negócios que se fazem à pala dos clubes, designadamente pelos dirigentes. Não tenho dúvidas de que haverá muita criminalidade organizada, máfias. Por exemplo, há uma área em que ainda nem se começou a puxar pela ponta e que é a que está ligada às apostas online. Não é por acaso que em Portugal, os jogos da 2.ª divisão, a que ninguém liga propriamente muito – tanto quanto eu sei e não sei nada de futebol – são dos jogos que mais apostas online de todo o mundo concitam. É altamente indiciador de que há aí criminalidade organizada, e a nível global.
Isso são as suas previsões, não são informações que lhe foram dadas pelo Rui Pinto?
Não. São informações que resultam do que apurámos no Parlamento Europeu quando fizemos algumas investigações relacionadas com estes esquemas na Europa. Só puxámos um bocadinho, por exemplo a propósito de Malta, que é um dos centros do jogo online, e nem fizemos essa investigação. Havia tanto mais ainda que investigar, designadamente relacionado com o assassinato da jornalista Daphne Caruana e com todos os negócios sujos implicados, que não chegámos lá, mas eu tive a intuição. Aqui em Portugal, de certeza que essa é uma das áreas que precisam de investigação e, tanto quanto eu vejo, ainda não se começou. Ainda recentemente escrevi uma carta ao ministro das Finanças e ao ministro da Economia, que tem a tutela da inspeção de jogos, sobre o navio Explorer, que foi construído em Viana do Castelo e que pertence, entre outros, ao senhor Mário Ferreira, da Douro Azul, e que tem uma licença de jogos do governo da Madeira e está pelo mundo a servir de casino. Aquele navio foi inaugurado por altas personalidades. Eu fiz a pergunta sobre quem está exatamente a controlar as incidências fiscais neste casino flutuante.
Teve resposta?
Tive a resposta de que estão a apurar. Está a ser apurado, ainda estou à espera da resposta.
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Fonte: DN